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Oleoma: Relato de caso com boa resposta à tetraciclina

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Oleoma: Relato de caso com boa resposta à tetraciclina
Paula Ferrazzi Magrin1, Carla de Oliveira Ribeiro1, Luís Peres Quevedo Filho2, Sandra Maria Barbosa Durães3, Mayra Carrijo Rochael4
Dermatology Online Journal 16 (10): 7

1. Pós-graduanda do serviço de Dermatologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP) - Rio de Janeiro (RJ), Brasil.
2. Médico dermatologista, especialista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia.
3. Professora doutora adjunta do serviço de Dermatologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP) - Rio de Janeiro (RJ), Brasil.
4. Professora doutora associada do serviço de Patologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP) - Rio de Janeiro (RJ), Brasil.


Abstract

Oleoma or paraffinoma is defined as a foreign body granuloma that results from the injection of oily substances into the skin or subcutaneous tissue. We present a young patient with ulcerated lesions secondary to infiltration of oily material. He had undergone the injections with the aim of increasing muscle mass and definition. The treatment of these cases is quite complex, often with unsatisfactory results. The use of long-term oral tetracycline proved to be helpful.



Resumo

Oleoma ou parafinoma é definido como um granuloma de corpo estranho resultante da injeção de substâncias oleosas na pele ou tecido celular subcutâneo. Apresentamos um caso de lesões ulceradas secundárias à infiltração material oleoso, em uma jovem, com propósito de aumentar a massa muscular e definir o contorno corporal. O tratamento destes casos é bastante complexo, com respostas pouco satisfatórias. O uso de tetraciclina por longo período mostrou-se eficaz.


Introdução

O termo parafinoma ou oleoma é usado para definir uma reação do tipo corpo estranho, não alérgica, produzida pela injeção intradérmica ou subcutânea, de substâncias oleosas minerais, vegetais ou animais [4].

As lesões cutâneas decorrentes destas infiltrações se manifestam como nódulos endurados, isolados ou confluentes, formando placas que envolvem maciçamente as camadas superficiais da pele e estendendo-se também ao tecido subcutâneo e tecido adiposo. Algumas vezes há formação de úlceras e fistulas que secretam material purulento ou oleoso [6].

A latência entre a infiltração da substância e a ocorrência da reação é bastante variável, podendo ocorrer em alguns dias até muitos anos após as injeções [4].

O tratamento cirúrgico é a principal indicação terapêutica, para a maioria dos autores, [4] embora existam relatos do uso intralesional ou sistêmico de corticosteróides, bandagem compressiva, liposucção guiada por ultrassom, porém, a maioria com resultados inconstantes e pouco satisfatórios [9, 10, 11].


Relato de caso

Paciente feminina, 28 anos, branca, solteira, procedente de São Gonçalo-RJ.

Há 10 meses foi submetida a infiltrações com substância oleosa que não sabe especificar, na região das nádegas e coxas com finalidade estética, não sabendo precisar a quantidade de material injetado. Há 8 meses surgiram lesões eritemato-edematosas nas nádegas que evoluíram com ulceração e drenagem de secreção oleosa. Há 6 meses, sucederam lesões semelhantes na coxa esquerda e lesão tumoral mal delimitada na coxa direita. Fez uso de cefalexina por 6 meses, com pouca melhora, e prednisona 40mg/dia por 2 meses. Negava febre e sintomatologia sistêmica acompanhando o quadro cutâneo. Relatava já ter feito uso de anabolizantes e polivitamínico para uso animal (Potenay ®) por via oral e injetável em outras ocasiões.


Figura 1 Figura 2

Ao exame apresentava cicatrizes hipercrômicas e atróficas nas nádegas (Figura 1). Lesões eritematosas, ulceradas, a maior medindo aproximadamente 5x5cm na região anterior da coxa esquerda (Figura 2). Lesão tumoral, eritemato-edematosa, mal delimitada, medindo aproximadamente 10cm na face anterior da coxa direita, dolorosa à palpação.


Figura 3 Figura 4

A ultrassonografia evidenciou pequenas coleções medindo 8 x 7 mm, 6 x 3 mm e 4 x 4 mm e espessamento acentuado do tecido celular subcutâneo adjacente, na coxa esquerda. Na coxa direita coleção com debris no interior do tecido celular subcutâneo medindo 3.6 x 0.8 cm a 1.5 cm da pele. Procedeu-se a biopsia de lesão ulcerada na coxa esquerda que evidenciou processo granulomatoso do tipo corpo estranho e material morfologicamente compatível com substância oleosa exógena (Figura 3). Foi colhido material para exame bacteriológico e cultura, cujos resultados foram negativos. Iniciou-se tratamento com tetraciclina 500 miligramas via oral 06/06 horas e após 4 meses, a paciente evoluiu com o fechamento de todas as lesões ulceradas na face anterior da coxa esquerda, apresentando apenas cicatrizes hipercrômicas (Figura 4), e diminuição do edema e da dor na coxa direita.


Discussão

A injeção de materiais estranhos como óleos é prática antiga e obsoleta usada desde o início do século IX com o objetivo de preencher imperfeições e melhorar a aparência estética [1, 2].

Em 1971. Frederick e cols [3] adotam o termo parafinoma para definir uma reação do tipo corpo estranho, não alérgica, devido à injeção intradérmica ou subcutânea de substancias oleosas minerais, vegetais ou animais, originando placas irregulares, enduradas, que acometem pele e subcutâneo, e que podem, posteriormente, sofrer ulceração.

Apesar de efeitos imediatos e bons resultados estéticos como aumento de volume ou modificação do contorno de várias áreas do corpo, a infiltração de óleo leva a complicações a curto e longo prazo, como inflamação da pele, edema duro, abscessos estéreis e linfangite difusa [4].

A migração do óleo injetado acarreta conseqüências desastrosas [7]. Esta difusão pode ter diferentes direções e não é relacionada estritamente ao ortostatismo, pois segue preferencialmente a presença de tecido adiposo. Por este motivo a reação sempre permanece acima do plano da fascia muscular pelo fato desta ser destituída de gordura [5].

Histologicamente, o óleo nunca consegue ser reabsorvido e se torna um corpo estranho. A reação inicial está relacionada à quantidade de substância injetada. Doses altas causam uma reação aguda inicial que tende a diminuir com o passar do tempo. A reação tardia ao material estranho se torna crônica, dado o aparecimento de macrófagos que fragmentam e armazenam as gotas de óleo no citoplasma na tentativa de metabolizá-las. As gotas maiores são cercadas por células gigantes multinucleadas. Fibroblastos são estimulados a produzir fibras colágenas [4]. Quando esta reação inflamatória se torna crônica ela é chamada lipogranuloma esclerosante [8].

Há relatos de injeções de óleo em diferentes áreas corporais e com diferentes objetivos. Tórax, pênis, membros superiores, membros inferiores e face são os locais descritos [5, 7].

A paciente foi submetida às infiltrações na face anterior de ambas as coxas e nas nádegas. A latência entre a aplicação da substância e o desenvolvimento dos sintomas foi relativamente curta, tendo em vista que na literatura há relatos cujas manifestações iniciaram até 40 anos após a realização desta prática [10].

Clinicamente as lesões apresentadas são muito semelhantes às relatadas pela maioria dos autores, sendo que a formação de úlceras e fístulas ocorre na grande maioria dos casos [4, 5, 10].

Histopatologicamente o achado de tecido de granulação e fibrose já caracteriza a fase crônica do processo [4].

A ultrassonografia pelo seu baixo custo e acessibilidade foi o exame de escolha na tentativa de elucidar a extensão do dano causado pela deposição de óleo.

O tratamento proposto foi o uso de tetraciclina 500mg via oral de 06/06 horas, com redução progressiva da dose. A escolha por um tratamento conservador se deu pela extensão do processo e conseqüente dificuldade de abordagem cirúrgica. O debridamento do local certamente acarretaria um dano estético ainda maior do que o já estabelecido. Na impossibilidade de realizar tratamento cirúrgico para remoção total do material infiltrado, a droga de escolha usual seria o corticosteróide pelo seu potencial antiinflamatório e imunossupressor. Não encontramos relato do uso de tetraciclina para oleomas, porém um relato de sucesso do seu uso num caso de siliconoma, reação granulomatosa secundária ao uso de silicone, nos estimulou a utilizar esta droga, para evitar os efeitos deletérios dos corticosteróides por longo prazo, já que o processo é crônico [12]. Existem poucos relatos na literatura sobre o uso das tetraciclinas em doenças granulomatosas, mas seu conhecido efeito antiinflamatório e imunomodulador através da inibição da quimiotaxia de neutrófilos e inibição da formação de granulomas, já foi demosnstrado in vitro [13].

References

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3. Frederick U. Stanley S. Weine, C. Ronald E Generalized paraffinoma. Arch Dermatol 1971 ; 103: 277-285

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