A ideia deste artigo é discutir a afirmação que surgiu durante o trabalho de campo desenvolvido entre músicos populares indígenas do Noroeste Amazônico brasileiro: todo instrumento musical possui “alma”. A partir dessa afirmação, busca-se desenvolver relatos etnográficos para sustentar que na prática da música popular entre os Yepá-mahsã, os instrumentos musicais são percebidos como “pessoas” (não-humanas). Desse modo, a música kuximawara do Noroeste Amazônico constitui uma cena fértil para o pensamento e prática indígena, especialmente no que se refere à música ritual do cotidiano. Para a reflexão, expõe-se um pequeno conjunto de dados etnográficos no qual exemplos descritivos apresentados pelos interlocutores demonstram como a música popular articula conceitos e práticas do pensamento indígena do povo Yepá-mahsã. Esses exemplos buscam evidenciar como os instrumentos musicais “estrangeiros” são concebidos por meio da cosmologia indígena e se relacionam com a origem dos “instrumentos sagrados”. Reflito, inversamente, como a ideia de um instrumento “moderno” como a guitarra foi, pouco a pouco, descontruindo-se para que eu compreendesse que, a partir da lógica Yepá-mahsã, todos os instrumentos musicais do mundo eram resultantes da ação dos deuses em um passado mitológico.
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